terça-feira, 30 de março de 2010

Ela e Ele

Dez horas, cinco minutos.

Para ele, tudo discorre assim:

Ela: Tô com vontade de chorar ...

....

Eu: Então chora.

....

Ela: Não, posso, tem muita gente aqui.


Dez horas, seis minutos.


Para ela, tudo discorre assim:

Dez horas, cinco minutos.

Eu: Tô com vontade de chorar.

Ele: Então chora.

Eu: (Chorar?Como eu queria! Tenho passado por tantas dificuldades, só que me vejo sozinha. Quase não tenho forças pra continuar... se eu chorar agora, os que estão nessa sala pensarão que sou fraca, frágil e muitos podem até tentar se aproveitar desse meu momento de fraqueza...não, jamais.Não vou chorar aqui. Prefiro enganar a mim e a todos, para quando eu estiver apenas comigo mesma, confessar todos os meus crimes, devaneios ... vamos lá, então.)

- Não posso, tem muita gente aqui.

Dez horas, seis minutos.


Por Iamí

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Futuro?


É tão rápido, é tão rápido...

Essa existência tua passa tão rápido...


Quando tu eras pequeno, deu tempo de brincar incansavelmente?Implicar com teu irmão?Se esconder para nunca te acharem?Fugir de casa?

...Procurar a mamãe?deu?

...Ter medo do bicho-papão?...


...


Quando alcançaste teus onze anos, deu tempo de iludir-se com seus primeiros amores?Pensar em problemas insolúveis como a completar o álbum de figurinhas?

Deu tempo de jogar bola até as seis da noite?Se sujar, correr, brincar de brigar...


...


Tua adolescência foi recheada de brindes como espinhas, trabalhos escolares, pais implicantes que nunca estavam com a razão, certo? Ainda sim, pensavas em como passar por eles, pensar nas primeiras namoradas,nas primeiras incoerências do amor, nos primeiros amigos verdadeiros...não?


Não venhas me dizer que agora, justo agora, que tens maturidade para discernir o certo do errado, os caminhos que levam a um destino ou a outro por conta da sua errante experiência,agora que tens o dinheiro para ir aos lugares que não podia na infância ou adolescência; não precisar da permissão dos pais opressores de antes, que não tem tempo mais para implicar com o teu irmão?Jogar bola até às seis?Saber lidar com um primeiro amor? Que que te falaram?Que isso era "ser adulto?". Ter responsabilidades, obrigações simplesmente te privaram de ter a alegria de uma criança novamente?

Estás errado. Sempre esteves se assim pensavas.


Ignorar sorrisos, bom-dias, praças, chuvas, velhinhos , sois, ideais de quando se era jovem.Ignorar os pais, sua mania de cantar, velhas cartas de amor, suas antigas fotografias só são uma forma de dizer o quanto você se apagou, tornou-se mais um entre bilhões.


A cada segundo, a vida em seu torno se modifica de uma maneira tão intensa que mal somos capazes de perceber.A vida é e sempre será supervídica, assim como são imperceptíveis os sons supersônicos.E não é porque ela é tão assim que deixará os grandes momentos se tornarem memórias apagadas, vácuos no espaço e na história.Vazios?Vazios?Vazios .......






Por Iamí.


Fotografia cedida gentilmente por Thatilane Loureiro.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Toda mudez do mundo


Retirada do pequeno acervo fotográfico de Iamí e gentilmente cedida pelo mesmo.


De quando em quando, dou-me o direito de ir à praia . Sinceramente, não gosto muito de sol, calor , água salgada e tudo mais que brasileiro adora numa praia.
Piso na areia, gelada ou infernal, de acordo com o sol e olho ao meu redor. Tantas cores. Tantos sons. Tudo tão embrumado na confusão dos sentidos, olhamos para tudo e não observamos nada.Creio que isso se dá pela insaciável ganância de querermos abraçar todas as coisas de uma só vez.Subitamente, meu pensamento se interrompe, atropelado pelo seguinte: "Está sol. Preciso dar um mergulho."

Meus passos acelerados contra o oceano fazem com que os sons e as imagens se distorçam menos, à medida que o mar quebra mais forte com suas descuidadas ondas. No caminho, famílias anônimas brincam como se não tivessem contas a pagar ao fim do mês, aves mergulham vorazmente em busca do pão de cada dia e as barcaças capturam menores com suas redes, conseguindo seus pães de cada dia para suas famílias anônimas.

Enfim, cheguei. Sabe o que é mais sublime? Conseguir ouvir toda a mudez do mundo e é bem simples.

Basta mergulhar e não fazer mais nada. Absolutamente nada. Todos os ruídos e imagens bagunçadas de mais cedo se tornam...paz.Silêncio...aprendamos a ouvir quietude do universo, pois nesses breves e eternos quinze segundos é que não temos a preocupação de tentar identificar o que está em volta. Apenas é. Tchááá!! Todo o caos retorna.

Confusão.









Por Iamí

Cigarro

é uma coisa triste. Não pela simples ideia de ter sido criado para amarrar bilhões de pessoas, alimentando sua sede por lucro. Não ligo mesmo para as toneladas de toxinas que não trazem um benefício sequer, além do prazer momentâneo (E não os julgo por isso, pois a vida é feita de grande parte de prazeres momentâneos) de dar um bela tragada. O que me revolta mesmo é o a pre-condenação a que os mesmos se submetem. Egoísta que sou, penso logo que pais fumantes dilaceram os sonhos dos pequenos, antevendo problemas sérios que cedo ou tarde ocorrerão.
Nunca a menininha poderá dizer "Meu pai morrerá dormindo", afinal as chances de uma complicação respiratória visitar mais cedo são bem grandes.

Cigarro é uma coisa triste.








Por Iamí

Crossroads

Começa deitado sobre travesseiros
Passa para um ônibus em movimento
Entre loucos, mulheres, crianças ou cachaceiros
Nada, nem ninguém interrompe este momento

Sonho de criança, eu sei
Correr por entre estados sem lei
Encontrar lugares...paisagens...
Ficar perdido até encontrar alguma passagem

Tantos sotaques diferentes
de cabo à rabo do mundo
Descubro que as pessoas são transparentes
E simplesmente humanas, no fundo

No meio do caminho,
Entre roques e metais
Uma linda viajante, morena, de cachinhos
Finalmente agarro a minha paz

Quando dou por mim,
Acordo desconfortável...meio torto...meio assim
O motorista convictamente me avisa
Olho para a placa ao lado

Cruzamos mais uma divisa.







Por Iamí

Imagem: http://www.smh.com.au/articles/2007/09/13/1189276860844.html

sábado, 26 de dezembro de 2009

Glauco Bêbado

Gritei à Maria mansamente
Disse que seria tarde meu retorno
Deu dez horas, eu estava me embebendo
Das saudades dum tempo ruim e morno
À madrugada andei pouco contente
Às duas parecia um delinquente
E de manhã tinha dois chifres - era corno




Por Pucaré



Imagem: "O bêbado"- pintura de Cleberto Miranda

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A Cólera que move o mundo



Certa vez, um homem disse ao outro:" Este pedaço de terra é meu!"

...e o outro acreditou.

Certa vez, um governante disse ao seu povo:"É assim que devemos pensar!"

... e o povo acreditou.

Certa vez, um país invadiu seu vizinho com o pretexto de "Prevenção de riscos"

... e o mundo acreditou.

Certa vez, uma mãe disse ao seu filho que o mundo não tem mais "salvação"

...e o menino acreditou.

Disseram até que certa vez, um deus era melhor do que o outro
... e aí ninguém acreditou.

Por fim, certa vez, uma mulher simplesmente dilacerou o coração do seu amante alegando que não pode aceitar o seu amor.

...E ele fingiu que acreditou.

Seja lá quais forem as forças que podem mover o mundo, a cólera certamente move o mundo e talvez seja pela última razão que eu comece a compreender,mas, não justificar, todos os outros males.








Por Iamí